sábado, dezembro 30, 2006

Saddam likes Teen Spirit

Geralmente se cria um blog em tempos de inspiração pulsante, faminto pela necessidade de escrever qualquer coisinha que lhe martele. Os primeiros dias são sempre fartos de idéias e conteúdo, muitas vezes sequer esperando meia hora após a publicação do post de apresentação.

Não é meu caso mesmo, ando até meio desconfigurado com meus pensamentos, meio que “fechado para balanço”, aproveitando a reta final de 2006 para assimilar tudo que li, assisti e conversei no primeiro ano de maioridade e faculdade.

São pequenos flagrantes que apontam um cara longe dos 100% de equilíbrio: a preguiça para sair da cama, as perguntas não respondidas de imediato, o fim de filme deixado pra depois, e até o gol perdido na cara, por mais falta de concentração do que pela própria ruindade.

Assim, na falta do que dizer, justamente na apropriada situação para escrever, dedicarei aleatórios parágrafos a cada tema atual que me ocorre no meio da penúltima tarde do ano. Assunto é o que não falta.

Há algumas horas, é quase certo, foi à forca uma das figuras mais noticiadas das últimas três décadas. O sórdido malfeitor desprovido de caráter. O governante-intolerante, o ditador-do-horror, o vilão-sem-coração. Morreu Saddam Hussein - ele não sabia brincar.

Ver um cara desses de pescoço partido, perdendo a vida como as bruxas da inquisição; deixa forte o cheiro da maionese do retrocesso no ar. O que, no caso, é pior do que a pizza das punições menos radicais.

Em um dia santo para os muçulmanos. Sem a aprovação do Conselho de Segurança da ONU, dos governos do resto do mundo e nem do Papa. Sem um julgamento legal, sem levar em conta a perigosa revolta de seus partidários no Iraque. Foi tudo muito pouco. Dentro do prazo estipulado por eles mesmos, sentaram a cordinha e "bye, bye, Bigode".

Pra quê? Não demorou para os primeiros atentados brotarem na sequência, tão fatais quanto o tal massacre a 148 xiitas, aquele que incriminou Saddam. Hoje alguns poucos dormem vingados e satisfeitos, enquanto o mundo caquinho-de-vidro se afoga em mais instabilidade.

Era melhor deixarem-no morrer na prisão, pela conta da própria saúde.

Do modo que foi, fica ocupado o penúltimo assento do ônibus que partirá em breve ao inferno, levando, numa só viagem, aguardados e ilustres novos moradores (no ano em que morreram os cartolas do futebol Caixa d´Água e Nabi Abi Chedid; o ditador iugoslavo Milosevic, o chileno Pinochet, o paraguaio Stroessner, o turcomeno Niyazov... E Fidel Castro vai terminando os preparativos para também comprar sua passagem).

Enquanto isso, na mesma rodoviária do além, há um baú abandonado, sem qualquer destino. E, por isso mesmo, ali, fechado.

Foi por falta do que fazer que zapeei a TV ontem à tarde, pegando a metade final do último Disk da história. Sabia, mas já tinha me esquecido, que a MTV deixaria de passar videoclipes em 2007. Nas situações extremas que os choques proporcionam, concordei com o Badauí: “eu nunca quis presenciar o fim”.

Há muito tempo que não assisto TV direito, que dirá a MTV; uma deturpação do canal que foi minha importante influência cultural até 2000 e pouco. Eu assistia a melhor MTV do mundo, orgulhosa em não apelar para os realitys e porcarias de auditório que banalizaram a original norte-americana. Hoje não há diferença alguma no nivelamento por baixo.

O Disk ainda simbolizava algo de puro, mesmo com Felipe Dylon e Fresno no topo das paradas. Entendo o argumento de que “o jovem que procura clipes recorrerá à Internet”, mas e as madrugadas deitado de lado, vendo clássicos da boa música em seqüência? Foi assim que pelo menos ouvi falar de diversas bandas indies, bacanas de repetir o nome, mas das quais tive preguiça de me aprofundar.

Com mais propriedade, conheci Blind Melon, Heróis da Resitência e até algumas coisas de Elvis. Heranças que perdurarão pelo resto da vida... Acima das reviravoltas do canal.

A despedida foi constrangida, procurando deixar a melhor das impressões. Na espetacular seqüência de Raimundos, Ugly Kid Joe, R.E.M e Nirvana; ficou o convite à reflexão:

O canal de videoclipes abandona os videoclipes.
Conseqüência de um público desleal, que optou pela Internet.

“Debaixo de um teto de espelhos/ É onde tu estás a me chifrar/
Eu fico aqui coçando os meus córneos/ Imaginando em que motel você está/
Eu acho que o grande motivo agora eu sei/ Você deve pensar que eu sou broxa ou que eu sou gay/
Mas pra provar tudo que sinto/ Estou sozinho e sem ninguém pra me amar/ Estou sozinho e sem ninguém pra me amar”
Palhas do Coqueiro


O canal de videoclipes abandona os videoclipes.
Vai se nutrir de seus “Beija-Sapo”, o reflexo de quem lhe assiste.

“And as I hung up the phone it occurred to me/
He´d grown up just like me/
My boy was just like me”
Cats In the Cradle


O canal dos videoclipes abandona os videoclipes.
Como quem abandona suas convicções para ser o que não é.

“That´s me in the corner/ That´s me in the spotlight/
Losing my religion/ Triyng to keep up with you/
And I don´t know if I can do it”
Losing my religion


O canal dos videoclipes abandona os videoclipes.
Fedendo como a marca de desodorante, como o espírito jovem.

“I'm worse at what I do best/ And for this gift i feel blessed/
Our little group has always been/ And always will until the end”
Smells Like Teen Spirit


No pique, no pique. Também pensava em comentar algo da apocalíptica manutenção de dois dias do Orkut, inclusive gerando boatos sobre o fim da comunidade virtual. Mas não será agora. Para quem não ía dizer nada com nada, eu já falei mais que de mais. Deixa o final do filme pra depois...

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